Terminei um ciclo sem ninguém ver. O ciclo era eu.

Terminei um ciclo sem ninguém ver. O ciclo era eu.

Quando o Ciclo Acaba (mesmo quando tudo parece perfeito). Terminava 2019 e eu estava numa infelicidade atroz. Desconhecia aquele estado. Ir trabalhar estava a tornar-se insuportável. E era irónico, porque era um trabalho que amava e no qual vivia 24/7. Tinha conquistado tudo o que havia para conquistar naquele ano. Tinha duplicado o orçamento. Fiz uma Black Friday histórica. Estava no pódio das vendas dos milhões. A equipa era incrível.
O resultado de cinco anos estava finalmente à vista.
E eu, esgotada. No lodo dos lodos.

O fim que se sente no corpo. O ano virou e percebi que aquele ciclo tinha terminado. Sou daquelas sortudas que sempre trabalhou no que ama, e sempre soube que quando o desconforto chega é sinal de mudança. E ela estava ali, mas eu não tinha alternativas. Tínhamos comprado casa dois meses antes. Havia responsabilidades.

Mesmo assim, sem grande ensaio, reuni com o meu administrador e disse-lhe que não dava mais. Tinha os meus motivos bem alinhados. Foi duro. Foi doloroso. Sempre houve muito respeito entre nós. Ele tentou demover-me. Eu vacilei. Mas percebi rápido que já não era ali.

Depois veio a pandemia. E só o canal online vendia. O meu bebé. O que eu tinha construído. De repente era o único ponto de venda, a estrela da companhia. Adiei a saída. Não por dúvida, mas por gratidão. Eu amava o que fazia. Era feliz ali. Mas a minha missão tinha acabado.

Nunca vou esquecer a paz que senti no dia em que percebi que a decisão estava fechada. Uma paz que doía. Chorei tanto. À frente de toda a gente. Como uma criança. Pela dor e pela liberdade ao mesmo tempo.

Reinventar sem plano, mas com propósito. No dia seguinte já estava a fazer coisas. Como se fosse magia. Se naquela altura soubesse o que era o Human Design, teria entendido mais depressa o que se passava.

Com o online a explodir, a consultoria em e-commerce aconteceu num estalar de dedos. Sem pensar. O mercado precisava. Eu tinha as respostas. Ajudei quem podia pagar e quem não podia. Fui reconhecida. Muito. E a Projetora estava exatamente onde tinha de estar.

Ao mesmo tempo, dava formação no IEFP e no IPAM. Pouca gente sabe, mas fui eu quem propôs ao IPAM a formação avançada em e-commerce, que ainda existe. Sou co-fundadora de um projeto que nasceu para trazer prática a um mercado cheio de escassez e mimimis. Não foi feliz para mim. Fui mal tratada. Mas o que tinha de existir ficou. Vida que segue.

Quando a meshmess entrou. Janeiro de 2022 trouxe a meshmess. O meu maior desafio. Terminei tudo o que tinha em mãos e não procurei mais nada. O foco era total. Vinha carregada de expectativas e sonhos. Não sabia fazer quase nada e tinha tudo para aprender.

As sessões fotográficas que apareciam eram o meu oxigénio. De repente queria ser "modelo". Os meus looks começaram a ser apreciados. Outro possível caminho.

Mas a pressão que eu colocava sobre mim levou-me outra vez àquela infelicidade atroz. Andei perdida. A ouvir os outros. A deixar-me ser julgada pelos outros. Culpei-me. Disse-me coisas duríssimas.
Eu não valia nada.
És uma falhada, Elisabete Costa. 

Nunca pensei que tivesse tomado a decisão errada. Hoje faria o mesmo, mas com menos expectativas. Sempre disse que o mundo precisa de uma meshmess. Eu é que posso não ter sanidade para lidar com o tempo das coisas. Ainda penso isso. Ansiedade é lixada.

Tentei voltar ao mundo corporativo. No fundo, queria provar-me que ainda era uma pessoa de sucesso. Na minha cabeça torta, sucesso era igual ao valor das vendas. Mas nada me deu pikinhos no pipi. Recebi uns nãos jeitosos pelo caminho. Sempre a aprender. 

Virei para dentro. Tenho ferramentas para isso. Usá-las dá um trabalho do caralhinho, mas quando a dor aperta não há outra hipótese. É sempre sábio. Sempre certeiro.

Tive um ano de crescimento. Durinho e sábio. Desde setembro sinto-me num novo caminho. Mais calma. Mais focada no propósito, menos no resultado. A ironia....tenho mais resultados :). A aproveitar a fase. Pessoas saíram. Pessoas chegaram. Umas esfriaram. Outras ganharam chama. Não há acontecimentos. Há energia a fluir de forma diferente.

Em quatro anos e meio vivi e aprendi mais do que em catorze anos de carreira. Sou uma pessoa de sensações e entusiasmo. Enquanto vibrar, é caminho. Quando deixar de dar excitex, acabou. Concluído.

Mas, havia uma pedrinha. E foi preciso chegar à Black Friday de 2025 para, de forma prazerosa cá dentro, entregar em pleno o projeto de onde saí em maio de 2020 e assumir, sem hesitação, que já não sou de todo aquela pessoa. A Elisabete de hoje abraçou a de 2020 e disse-lhe muito baixinho: já está a voar, não precisa mais de ti. Larga a mão e vai correr tudo bem …..O momento em que percebi que não era mais a mesma.

Estou a aprender a aceitar que estou aqui agora, mas que amanhã posso mudar tudo. E está tudo bem ser assim. Obrigada outra vez aos nãos. Iam dar merda. Iam ser a tempo. O universo sabe sempre o que faz.

A minha fórmula atual de sucesso tem números, valor adquirido, reconhecimento, obra feita e muito excitex.
Mas tem algo que muda tudo. O denominador comum.
Tem verdade.
A minha verdade.

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